sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Venus

Lá vem ela, com as roupas rasgadas
E aquele sorriso insano.
Provocando com a língua os passantes.
Meio descontrolada, meio delirante.
Mais um pouco e rasga mais um pano.

Sexy e suja, marginal e perdida.
Uma louca alegria infantil sob o sol.
Flores e folhas em meio à mixórdia loira.
Corre de todos, afoita.
Mas ser perseguida até que não acha tão mal.

Venus é seu nome, ou Garota-Margarida.
Querendo de volta o que lhe tiraram.
Ensaia palavras numa voz vacilante.
Ou grita como mulher-mutante.
Saber o futuro ou o passado é inútil e vão.

Uma vez quis me dar um beijo.
E então me senti beijando a própria primavera.
Ofereceu-me um gole da sua mamadeira
E disse que podia tomá-la inteira.
Nunca ninguém tão desfeita pode ser tão bela.

Sempre soube no que estava se metendo.
Só não se lembra mais como começou.
Cada passo dado a um mundo em negativo
Onde tudo pode ser melhor do que tem sido
E a queda pode ser vista como um voo.

Boca de morango, riso de gelatina.
Mãozinhas que agarram firme.
Mais molhada quanto mais fundo mergulha.
E não importa se voce é um bom rapaz ou um pulha.
Há sempre lugar pra mais um no time.

Criança selvagem perdida na selva dos homens maus.
As fadas virão lhe salvar bem antes do fim.
E lhe recompensarão com mil beijos luminosos,
Um pouco parecidos com os nossos.
Voce se salvou de si mesma, enfim.

Os pássaros vem ao seu encontro.
Pequenos espécimes raros como voce.
Eu sou apenas um cão sarnento
Que te segue pelo cheiro por todas as ruas
Cansando na metade enquanto voce continua.
Ninguém pode dizer que eu não tento.

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